agosto 29, 2010

Sem disfarces (Música para as massas)




Escapei de mim mesmo, e agora temo...


... Temo que eu descubra quem realmente eu sou








*A Dave Gahan

agosto 23, 2010

Tentei caminhar com os meus sapatos



Tentei caminhar com os meus sapatos


Os mesmos sapatos velhos...





... Mas, acabei escorregando


Escorregando para dentro deles






*Homenagem a Martin Lee Gore, compositor do Depeche Mode

agosto 16, 2010

R.I.P. Elvis


"Será que deus, tem topete e costeletas?"


Homenagem dos Retinas Queimadas à:
Elvis Aaron Presley: nascido em 8 de janeiro de 1935 e falecido em Memphis no dia 16 de agosto de 1977.

A capa do primeiro álbum do cantor (1956) tem a foto inesquecível creditada a Willian "Red" Robertson, tirada num show na Flórida.

O poeta, em homenagem, a subverteu:










agosto 14, 2010

Sozinha, voltarei a crescer





Sem você

Não sou ninguém?

Acho que não...

... Eu simplesmente estaria

Me subestimando demais



Ou, lhe superestimando muito

Sem você, continuo sendo alguém

Uma parte, um pedaço, algo por fazer...

... Na verdade, com você me estagnei

E agora, sozinha, voltarei a crescer



*Poema de Núbia Poison

agosto 12, 2010

Mark, o gato



"And tell me where where is the faith
Someday there'll be a cure for pain"
(Morphine)



Ela tem um gato de estimação
E, com ele passeia todos os dias
Dá-lhe leite, petiscos e o acaricia
Com amor...
... Ah, queria ser eu o seu gato!
Cor de caramelo, gordo e preguiçoso
Você não vai chamar meu nome?
Dar-me um doce, me fazer um afago?
A cura para a dor virá
Basta tocar meu coração
Uma tigela de leite quente não seria suficiente
Nem um banho e tosa naquele pet shop
Somos muito mais que isso
Estou carente e preciso de atenção
Você é mais que uma dona...
... Eu, mais que um gato de estimação





*A Mark Sandman
 24/09/1952 – 03/07/1999

agosto 11, 2010

Solitária com Quintana

à Mario Quintana











Será que existe um outro mundo?

Uma outra vida no quarteirão seguinte?

Pelas ruas largas, carrego uma antologia de Quintana

Minha alma atônita vaga e busca...

... Respostas para minhas perguntas insanas

Entrei pela madrugada e agora

Só o brilho fosco dos postes e quem sabe

O espetáculo do Armaggedon para entreter-me

Cantam os grilos, meus passos estão leves

Tão leves que tento escalar o céu

O vento dorme...

... E o último ladrão acabou de apagar a luz


agosto 09, 2010

Iggy, o cão


"And now I wanna be your dog
... Well come on"
(The Stooges)






Você me chamou e eu estou aqui
Em seu quarto
Obedeço às suas ordens
Deito-me, rolo e fico de quatro
Sou Iggy e quero ser seu cão




Acabei de fechar os olhos
Estamos frente a frente, de fato
Você, no meu lugar favorito
E... Não acredito!
Sinto o cheiro da sua respiração




Ofegante, vou recebê-la ao portão
Secar-me-á o suor em seus lençóis?
Estamos a sós, arraste-me pela coleira e levante-me do chão
Salivante, pronto para mordê-la; não vá correr da paixão
Sou Iggy e quero ser seu cão




*A Iggy Pop

agosto 07, 2010

Quando o corvo fala










Tenho dúvidas... Muitas dúvidas.


Dentre elas, essa, e lhe pergunto:


"Existe, por acaso, um bálsamo para esse mundo?"


E o corvo, grasnando, disse-me:


"Houve e nunca mais haverá."







*Baseado no poema: "O corvo", de Edgar Allan Poe

agosto 06, 2010

Entrevista poética com Adoniran Barbosa (da maloca vinha o samba)


“Sou um cara triste,
Faço piada, mas é só por fora”
(Adoniran Barbosa)


Dá licença de contar...


O mais ‘punk’ dos sambistas, um fumante inveterado
Sou a repórter Núbia Poison e esse é meu entrevistado
Sem data de nascimento definida, mas com destino bem traçado
Falo de Adoniran Barbosa e eram dois maços por dia
“Nunca comprados, sempre filados”, como ele insistia




Na Cidade Ademar, com Mathilde e seus cachorros
Construiu sua parada, teto baixo, varanda e quintal
Em ‘Jaçanã’, não havia morada, só direito autoral
Sempre irônico, explicou-me a ‘questã’:
Desse bairro me veio a rima com ‘manhã’




Não é fácil escrever errado as letras de meus sambas
Isso tem que parecer real, convencer o intérprete e o ouvinte
Preste atenção menina, ouça o seguinte:
Se não sabes concatenar e nem o público convencer
Só aplauda, pois a eles não terás nada a dizer




Também conto causos e aqui vai mais um
Igual a esse, nunca ouvi nenhum
Pedi um taxi e pelo trajeto ouvia no rádio, bem naquela estação
Os ‘Demônios da Garoa’ interpretando minha canção
E na frente, um motorista confuso com minha informação...




Ao invés do estúdio, anunciou-me manobrando:
Chegamos ao Hotel Eldorado!
E foi logo estacionando
Desci do carro, sem bagagem e desolado
Chamei então, o porteiro num verso sagaz
Meu rapaz, hoje minha mala será aquela enorme lata de lixo, olhe para a sarjeta
E sorrindo-me absteve-se da gorjeta







*Adoniran Barbosa: Sambista que nasceu em Valinhos, interior de São Paulo, supostamente no dia 06 de agosto de 1910 e faleceu em São Paulo, Capital em 23 de novembro de 1982.

*Entrevista concedida a repórter Núbia Poison no Hotel San Juan na Rua Aurora em São Paulo.

*Núbia Poison, integrante virtual e roadie dos Retinas Queimadas é jornalista das publicações Retinas News.

*Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.



*Fonte: Mugnaini Jr, Ayrton: “Adoniran – Dá licença de contar...” Editora 34, 2002.




*Homenagem ao centenário do sambista que não perdeu o trem!

agosto 01, 2010

Case comigo, Núbia Poison!










Do globo da morte

A contemplo

Ela vai à faculdade

Gosta de flores

Ora no templo

Ouve músicas,

Ama “The Cramps”

Enquanto os palhaços

Jogam cartas

O trailer treme, antes

Quando bato surge a fera

Me ataca!

Vejo o mal, perversão

Bala de prata?

Apenas solitário, um palhaço me relata

Núbia, em meio à narcisos

São suas preferidas

Pelo olho de vidro morrerias do coração

A bruxa tinha-me mostrado

Nesse ínterim, absorto em meu acordeão

E, pelo esforço, a resposta veio a constatação

Nunca me casarei com você

As alianças...

... Devolvo-lhe, pois não

Doze doses tive que tomar

Para bonita poder lhe achar

Admita, esse excesso de vermute

Foi fatal, estou sem vida

Mas hoje, depois de ontem

Tenho muita sede

Não consigo contar direito

Minhas histórias

Saio pela tangente,

Esqueço as glórias

A convocação chegou

Foram dois anos de disciplina

Longe dela, me esfacelei

Ao Haiti eu fui, oh minha menina

Tornei-me pára-quedista

Saltar do firmamento virou rotina

Naquela tarde peguei três trens para provar-te

Trouxe-lhe a notícia

Escrevi teu nome no céu

Seu nome é Núbia Poison

Te levo ao altar, abro teu véu

Fui criado num pequeno lago

E agora, estamos no oceano

Poseidon, deus dos mares

Me afoga e não percebo

Eu tenho um só plano

Preciso de emprego, trabalho de graça

Pode acreditar

Todo mês, fim do ciclo

Te sussurro um detalhe

É minha proposta, suplico

E sobre ela justifico

Sou domador, homem bala

Limpo a ala dos elefantes

Mas, no encontro, sou galante

Lançador de facas preciso

Levo flores, seus narcisos

Aí, não sei como

O tempo acelera e pára

Tudo se dispersa

Comunico aos amigos

Não há inércia

Minha vontade, obsessão

Qual é seu problema, garoto?

Me fazem a indagação

E assim, a contar recomecei

Acabei de conhecer

A mulher com quem me casarei

Não faço idéia de quem tu és?

Sou um contador de histórias

Mentiras?

Romances?

Contos?

Devo acreditar em seus encantos?

Também sou músico

Faço canções e as canto

O artista é surreal, não possui matéria

Só sedução

Você é a única que não compreende meu coração

Por ti, pelas suas negações

Sou um retrato mal acabado de mim mesmo

De quem é o problema?

Barco à deriva, abalado

Vou a esmo, grand’ ilema

Limparei tua piscina

Veja e constate

Arrumarei teu jardim

Nada é invenção

Serás minha mulher

Quero-te agora, confie em mim

Qual o problema dos icebergs?

Os noventa por cento abaixo?

Ou os dez por cento acima?

Una-se a mim, já!

Montemos uma banda

A vida nos ensinará

Os acordes necessários

Som de salafrários

Fiz uma canção

É mais ou menos assim:




“Em meio aos lençóis

Eu voltei

Estendidos no varal

Lhe beijei”




Quer me mostrar

Que livros está lendo?

Há uma segunda vida?

Uma personagem, outra família?

Um filho bastardo fora do casamento?

Indago, interrogo, lamento

Passava muito tempo

Fora de casa

Mesmo assim, prefiro acreditar

Em você, e não em mim

Não é verdade!

Qual a autenticidade?

Os carros do comercial?

Moscas presas no pára-brisas?

As siamesas da Coréia?

Atrações exóticas que sempre paralisam

Abelhas na colméia

Voam e deslizam

Apague a luz, sairemos vencedores

Vamos pelo amor

Que conduz as nossas dores




*Núbia Poison, integrante virtual e roadie dos Retinas Queimadas é jornalista das publicações Retinas News e companheira do poeta.


*Texto adaptado ao filme: "Big Fish" (2003), direção: Tim Burton.