Eu sou Núbia Poison e nosso entrevistado de
hoje é uma lenda dos filmes de terror e uma das maiores celebridades do cinema
americano:
Sem delongas, Bela Lugosi! Meu vampiro
preferido...
... Mr. Lugosi, sua carreira foi construída
por interpretações marcantes da personagem “Conde
Drácula”. De onde vinha sua inspiração para esse papel?
Pode me chamar de Bela... Bom, além de ler várias vezes o original de Bram Stocker, eu nasci na Hungria! Sou
muito próximo das origens do “conde Vlad”, respiramos o mesmo ar... Penso
que isso me deu now how suficiente
para interpretar esse papel tantas vezes e cair no gosto do público.
Claro que sim! O senhor é considerado um
dos maiores atores europeus de Hollywood.
Percebo que o senhor está impecável! O que
faz para parecer tão jovial?
Obrigado pelo elogio. Estive na Inglaterra
e acabei de chegar de lá. Sempre que visito a ilha renovo minhas células...
Aquele clima me faz muito bem. Estou há mais de cinco décadas na América e, às
vezes, preciso respirar ares europeus... Está no sangue!
Literalmente Bela, literalmente...
Como é para o senhor fazer tantas versões e
filmagens sobre o tema Drácula?
Menina vou te dizer uma coisa: Drácula
nunca acaba! Afinal, vampiros não morrem... Mas, podem ser destruídos. O que
acontece é que, depois de Mr. Hellsing,
nunca mais ninguém tentou fazê-lo.
Nem o próprio Van Hellsing conseguiu destruir Drácula, pelo menos nos filmes da Universal e da Hammer, não é mesmo Bela?
Sim, nem ele conseguiu nos destruir!
Quando interpreto essa personagem entro num
transe durante semanas... Vivo o papel intensamente, como nenhum outro ator e
isso trouxe crédito à lenda mantendo-a mais viva do que nunca no imaginário
popular.
Trouxe também crédito ao meu nome e a
Universal. Até parece que, na concepção do livro, Bram Stocker já sabia que eu, um dia, cumpriria essa tarefa... De
dar vida nas telas ao conde Vlad!
Posso, então, chama-lo de homem de sorte?
Não sei... Não sei se esse papel foi sorte
ou maldição! Só sei que ele nunca acabará... Não reclamo e nem agradeço, só
cumpri uma missão e tentei fazer bem feito.
O que sabemos, Bela, é que o cinema sempre
revisitará essa obra tão sedutora... Ela é encenada desde o início do século XX
e se adapta facilmente às novas gerações, aos desejos e anseios juvenis.
É, minha cara... Basicamente a lenda de
Drácula atrai o público jovem e eu não sei o porquê disto.
Você trabalhou para a Universal durante
muito tempo. Sei que rejeitou o papel de Frankenstein, dirigido por James
Whale. Porque não quis fazer o monstro?
Simples, não havia roteiro para mim. Não
havia falas, não conseguiria expressar sentimentos... Só havia maquiagens e
grunhidos naquele papel. Não necessitava talento. Qualquer um poderia fazê-lo!
Recusei veementemente, e Karllof acabou
aceitando. Foi ótimo para a carreira dele. Nós imortalizamos dois ícones do
terror moderno: Drácula e Frankenstein!
Qual filme, ou estilo de filme que o senhor
nunca fez, mas gostaria de, um dia, ainda poder fazer?
Adoro comédias e filmes com pitadas certas
de ironia. Encenei “Vampire Over London”
nos palcos ingleses... Era um papel dramático com situações inusitadas que
beiravam o ridículo, era engraçado e me deixou saudades. Eu ria muito nos
ensaios e gostava daquilo!
Qual foi seu papel preferido no teatro?
Hum... Na Hungria interpretei uma peça de Murnau. Havia marcas expressionistas no
cenário e havia personagens muito peculiares... Gostei de trabalhar no roteiro,
foi uma verdadeira oficina para mim.
Qual diretor o senhor mais aprecia?
Na América adorei trabalhar com Ed Wood, um diretor que trabalhava de
maneira bem diferente. Ele não era convencional. Ele era... Era de um improviso
mágico, acreditava em suas perspectivas, seus ideais e fazia tudo de uma
maneira bem rudimentar. Mas, não sei se no futuro, com todo o acesso
tecnológico e novas ferramentas de trabalho alguém vá se interessar pela sua
obra. Os filmes terão muita potência!
Ah, Bela! Ed Wood sempre será um mestre! Comprei “A noiva do Monstro” num supermercado e já assisti várias vezes!
Vocês estavam demais!
Adoro ver a cena em que o Dr. Vornoff hipnotiza a jornalista.
Aquele jeito com as mãos...
Obrigado, tem que ter muita flexibilidade
nos dedos, garota!
Para encerrar, deixe uma mensagem para seus
fãs e leitores das Publicações Retinas
News...
Bem, eu... Eu gostaria de agradecer ao Ed por acreditar em mim... Fiz meu último
filme sendo dirigido por ele.
Para seus leitores eu digo: Leiam Bram Stocker! Aquilo sim é literatura de
verdade!
E, para meus fãs... Quando eu morrer, me
enterrem com a capa de Drácula! Meu
filho, Bela Jr. sabe onde ela está
guardada.
*Bela Lugosi: Béla Ferenc Dezsõ Blaskó (20/10/1882 - 16/08/1956)
*Entrevista concedida a repórter Núbia Poison no Holy Cross Cemetery em Culver City, California, EUA.
*Núbia Poison, integrante virtual e roadie dos
Retinas Queimadas é jornalista das Publicações Retinas News.
*Qualquer
semelhança com a realidade é mera coincidência.
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